Veio de mansinho, tão devagar que eu quase não reparei. Quase. Algo que era além da inteligência, bom gosto musical e apreço por animes, foram os pequenos detalhes que fizeram com que eu o notasse. O modo de falar que parecia tímido mas ao mesmo tempo tão livre e desimpedido, olhar sincero e transparente, uma energia que me deixava em paz.
Era inegável o interesse e impossível não se aproximar. Ele era como ímã e eu como metal: quando longe, me atraía para ele; quando perto virávamos um, de modo que ficava difícil separar.
Mais difícil ainda foi manter minha mente sã e meu coração continuar no mesmo compasso quando ele me disse seus reais sentimentos. Era uma alegria que não se continha dentro de mim e então saltava por entre meus lábios, que sorriam como se tivessem acabado de aprender o ato. Meu coração batia mais alto que escola de samba e mais acelerado do que corações em arritmia.
Tudo só ficava ainda mais difícil de resistir. Todos os sentimentos que ele transmitia apenas fortalecia o que morava dentro de mim. Ele parecia conhecer tudo em mim, era como se a vida toda estivéssemos juntos! Era como se tivesse o controle nas curvas do meu corpo, e eu conhecia cada atalho do dele, e eu nunca me sentia constrangida. Eu olhava pra ele e via a mim, só que numa versão mais bonita.
Prometi que não seria como as outras mas acabei sendo: eu o deixei. Eu tive medo. Deixei esse sentimento falar mais alto do que o amor que se esgoelava dentro de mim para que eu o escutasse. Tive medo de não ser o bastante, e acabei cedendo às dificuldades que vieram. Se toda essa baboseira de alma gêmea existisse, ele era a minha. E eu o deixei escapar.
A vida o tirou de mim de um jeito doloroso, fazendo com que ele nunca mais voltasse. E eu não tive a chance de me despedir — ou me desculpar. Carrego até hoje a dor da perda de um amor-não-vivido, a culpa de não ter enfrentado, carrego também a covardia da omissão.
Sei que pode soar muito clichê e talvez você já tenha escutado e lido muito isso por aí, mas valorize enquanto tem. Não deixe os sentimentos ruins falarem mais alto do que os bons. Porque o medo, a mágoa, o ódio e sentimentos parecidos não acrescentam, eles subtraem. Deixando para trás apenas sua coragem, entusiasmo e fé de que as coisas podem ser melhor.
Muitas pessoas reclamam que nunca encontram um amor, mas você já parou pra pensar que talvez tenha encontrado o seu e o deixado partir?
Então, se arrisque. Vai, mesmo se tiver medo, vai! Porque é mais válido se machucar tentando do que se lamentar pelo que nunca aconteceu.
